segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Amor ao próximo

Não me peçam amor se vocês nunca souberam me dar.
Não exijam que o número a mais traga um zero a esquerda.
Não questionem a minha sociologia.
Não me pressionem, assim só fico mais confusa.
Eu sou a bagunça dos quartinhos da minha casa.
Da gaveta de miudezas.
Acho que sou incapaz de amar.
Não sei o que é amor, desses que a gente vê na televisão, ouve falar, lê em livros.
Se ele é tão presente, ele deve existir.
Mas tenho minhas dúvidas.
Não sou amorfo porque tem amor no meio.
Mas ainda sou um ser estranho.
Eu uso calça.
Eu não sei dançar em balada.
Eu nunca amei um.
Acho que não amo nem a mim mesma.
Me mutilo no espelho.
Me mordo em pensamentos.
Caio sempre.
Penso sempre no bem dos outros antes do meu.
Não quero magoar ou decepcionar.
Mas sempre o faço.
E sumo.
Talvez o que eu sinta pela minha família seja amor.
Mas ainda tenho dúvidas.
Família também estranha.
Que também ama estranho.
Talvez eu nem saiba mais o que é família.
Família espalhada e com muita coisa debaixo do cobertor.
Que não lembra sem rancor.
Não per. Doa, a quem doer.
E dói a todos.
E tem também aqueles amores discutidos no jantar com pato.
Aqueles de fases.
Do infantil.
Do fundamental.
Do médio.
Da igreja.
Do finalmente.
Aqueles que a gente lembra, só lembra.
Não vê.
Esse amor muda.
Eu mudo esse amor.
Repito, eu não tenho.
Talvez meu problema seja não aceitar minha estranheza.
Minha incapacidade de amar.
Forço o amor em mim, e eis que um dia, eu canso.
Porque sou fraca.
E não sei amar.
Acho que o amor das histórias não existe.
Só existe um amor.
Ainda inexplicável, mas existe.