terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Querido Papai Noel...

Esconde-esconde. Careta. Abraço. Conversa. Desabafo. O diálogo mudo. Paz. Sorriso. Cabelo atrás da orelha. Mensagem. Estrelas. Gato com sininho. Mão. Filme. Cozinha. Carinho. Borracha. Carta. Arrepio. Segurança. Perfume. Falta de ar. Rabiscos. Timidez. Calmaria. Vergonha. Calor. Ontem.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Palpite

- Promete que nunca vai embora?
- Plometo! Eu plometo!

J. cade vc?
Vem passar o natal comigo!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Lente da Amora

Seria loucura dizer que aquela antiga amoreira ainda brota? Os frutos não aparecem mais, mas as folhas sempre brotaram, desde aquela época. Uma aqui e outra acolá para de dizer tempos em tempos que morta ela não estava.
Estava caminhando por ali e parei para dar-lhe atenção. Sentei na grama e observei-a, lembrei de cada subida, conversa e esconderijo que me proporcionara, senti saudade. Começei a conversar em voz alta com a árvore em busca daquela antiga relação, contei do meu dia, meus anseios, do noticiário, das minhas piadas sempre sem graça, e tudo o que se passava. Passei o dia ali, mas ela não me respondeu.
Volto lá todos os dias, na esperança de que um dia ela volte a brotar as amoras, que um dia estupidamente desprezei. Talvez a amoreira tenha ficado muito chateada com o meu chá de sumiço que a (i)maturidade causou, mas ainda alimento o tambor dentro de mim que diz que um dia seremos novamente nós. E por falar em tambor, depois de ter tomado o mesmo chá de sumiço, ele voltou, e forte.

Lágrimas e chuva

Querido J.
Que saudade! Minhas noite frias e chuvosas ficam duas vezes mais frias e chuvosas sem você, só que agora elas ainda são solitárias.
Já colori, li, cantei, assisti, chorei, dormi, mas o que tem faltado é você aqui no meu colo e no meu pé certificando-me que você está ali e isso é impossível repor!
Mesmo que não volte, promete que fica bem? É difícil dizer adeus, mas estou começando a aceitar. Você sabe que eu sempre vou te amar!
Mande notícias, nem que seja pelos passarinhos que cantam de manhã!
Com carinho e saudade,
M.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Alice no País das Armadilhas

- 3, 2, 1! Lá vou eu!
O sinal. Era a última chance de me esconder. Entrei atrás de uma árvore, e, de repente, em um corredor confuso, com medo de que me achassem, lá esperei.
Durante um longo período, nem sinal de minha irmã, orgulhei-me do esconderijo e continuei esperando. Mas a noite chegara de mansinho, e comecei a me assustar, estava em um lugar desconhecido sozinha.
Foi quando ouvi uma música barulhenta e algumas vozes, corri atrás delas, buscando a saída. Cheguei em uma festa, as pessoas dançavam, cantavam, brindavam e se divertiam, mas era uma festa estranha, não parecia com as que eu frequentava: estavam todos de preto, alcoolizados, e de onde estava, todos pareciam imorais, nunca tinha me deparado com uma cena como essa antes, meu medo aumentou, mas aproximei-me para conseguir informações.
A aproximação trouxe consigo uma "surpresa" amedrontadora, gritei, mas não me ouviram. O rosto de todas elas eram disformes, de longe, isso não se notava. No lugar da feição de cada uma estava um borrão, como aqueles que borrachas ruins costumam deixar. Apossou-se de mim o medo: minha garganta fechara, minhas pernas bambearam, nunca tinha me deparado com tamanho horror. Mas como a vontade de sair dali era maior, recuperei minha coragem e fui ao encontro de uma mulher que estava ali perto:
- Oi?! Poderia me dar uma informação?
- Anda logo menina, está vendo aquela tenda ali? Tenho um compromisso lá dentro de dois minutos e ainda quero tomar mais uma.
- Ah sim, desculpe-me! Mas é que estava indagando: Onde estamos?
- De que importa? Tem cerveja e homem de sobra, o que mais quer!?
- É... obrigada - respondi envergonhada
Avistei um homem pensativo sentado em uma pedra a alguns metros de mim. Aproximei-me e perguntei:
- Olá! Você sabe onde estamos?
- Para alguns, menina, o paraíso! Iludem-se de uma falsa liberdade e impermeabilidade enquanto, na verdade, estão apenas presas em um labirinto. Para mim, porém, esse lugar não passa de um inferno, já estive com eles também, mas percebi que não me encaixava ali. Infelizmente, não consigo abandonar esse lugar, então fico aqui na divisa entre os mundos, ora estou ali, ora aqui...
Aquela história de dois mundos me confundiu, mas algo do discurso me era interessante:
- Então estamos em um labirinto?
- Sim e não. Esse lugar é o que você quiser que seja, mas sua saída é inatingível, isso eu lhe garanto! Agora retire-se, pare de me importunar!
- Oh sim, desculpe-me senhor! Obrigada!
A conversa não me ajudara muito, mas ao menos agora eu sabia que deveria tomar cuidado. Resolvi esperar a noite passar e com ela a euforia alcóolica para descobrir como sair dali. Acomodei-me embaixo de uma árvore e ali, sobre a relva, adormeci.
Acordei no dia seguinte com um grito de comemoração e o barulho de copos se chocando e quebrando. As imagens do dia anterior vieram-me á mente - suspiro - "não, não era apenas um sonho". A festa não tinha acabado, e parecia que nem acabaria. Estavam todos ali da mesma forma, suas vidas eram aquilo.
Pensei em minha família, deveriam estar preocupados, estava desaparecida desde o dia anterior. Fiquei com saudades. Precisava enfrentá-los.
Logo quando cheguei na rodinha enfiaram uma caneca na minha mão e me abraçaram, cantando o rock que estava tocando. Perguntei onde estávamos, não me responderam.
Na mesa ao meu lado estava uma roda de pessoas e de dentro dela saía uma fumaça. Uma mulher me puxou para dento da roda. Em cima da mesa estava um objeto estranho, que estavam todos usufruindo. A mesma mulher ofereceu para me juntar-me á eles, como estava desesperada e precisava de alguém que me mostrasse a saída, aceitei. Odiei, mas estavam incluída na roda.
Gradativamente adotei a vida daquelas pessoas, esperando que com colegas, não estaria sozinha e me responderiam. Bebi, dancei, cantei, fumei, me droguei, e perdi o que para mim era digno, com pessoas que nunca vi, nem antes, nem depois.
A vontade de voltar para casa ainda vinha me incomodar, mas era sempre soterrada no baú debaixo do assoalho onde estavam meus valores, angústias e aquilo que chamam de saudade. Algumas vezes, pensei em perguntar sobre a saída, mas minha (in)consciência logo puxava o meu desejo e escondia no baú. E assim vivi por um longo tempo, sob a vontade dela, deles.
Um certo dia, estava à procura de folhas e encontrei no chão, um pedaço quebrado de um espelho. Não via um há muito tempo, então, não contive a vaidade, olhei e gritei. Tamanho fôra o susto que durante alguns segundos escutei seu eco. O que eu via no espelho não era eu. Olhei ao meu redor pra certificar que estava sozinha ali e eu estava, aquele era meu reflexo. Subitamente, meus olhos se encheram de lágrimas e derramei-me aos prantos.
A imagem do espelho era exatamente aquela que me assustara tanto em minha chegada ali: um borrão. A única coisa que me distinguia daquele povo eu tinha perdido: a minha própria identidade, minhas feições. O choro foi se transformando em berros de socorro.
A razão veio me visitar depois de tanto tempo brincando de esconde-esconde. Percebi o quanto estava perdida, ali nem sequer me conheciam, era apenas mais um borrão, e um borrão não era eu. Uma corrente de desespero me atingiu e comecei a correr.
Corri, e quanto mais eu corria mais eu encontrava corredores sem saída. Passei o dia correr, no mesmo ritmo frenético. O lugar que passei meses indagando o que seria, era um labirinto e como disse o cara da pedra: uma vez que você entra, sair é um desafio. E era. Quando já estava anoitecendo, encontrei a saída. Estava livre!
Continuei correndo em direção à minha casa. O reencontro fez com que todos ficassemos abraçados, entra lágrimas e pedidos de desculpa. E entre tanto alívio generalizado sorri, ali que estava a minha felicidade.
Quis tomar um banho. Ao entrar no banheiro o espelho me encarou. Tive medo, mas fechei os olhos e me coloquei diante dele. Abri e mais uma vez gritei, mas de felicidade, meu eu estava ali de novo. Indaguei se tudo aquilo não passava de um sonho, mas forte a dor de cabeça que aparecia comprovava que não.
E depois ainda dizem que "Labirinto do Minotauro" é só uma lenda.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

MegaNão

Clique: A tela à minha frente se esconde, e subitamente surge um palco, um público, e uma cortina que do teto ao chão, esconde a surpresa que está por vir.
Olho ao meu redor. À minha frente, o grupo uniformizado com narizes avermelhados canta animadamente. Um pouco mais à frente deles, uma criança conta entusiasmada à mãe seus devaneios acerca do segredo por trás da cortina, enquanto ao meu lado, uma criança nascida há mais tempo bate a bengala ao chão em ato de ansiosidade pelo o que está por vir. Em um canto mais reservado, o casal de namorados espera o momento ideal para em um único gesto declararem-se.
As luzes se apagam, um vocativo ecoa no salão e a cortina misteriosa se abre.
Do fundo do palco, vem um palhaço pintado em vermelho, branco e preto. Na mão, o violão companheiro de madrugadas ao sabor de sopa instantânea, casando palavras e parindo rimas e versos. Com ele, vêm outros palhaços, cada qual vestido de seu personagem.Ao céu, contorce-se graciosamente em um tecido pendurado ao alto, a boneca roxa e vermelha, enquanto outra, esverdeada, encanta com suas atuações e estripulias na lira.Em solo firme, interagem os palhaços e seus instrumentos, e um deles dançando hip hop diverte com suas encenações e graças. Completando a trupe, está outro, se metamorfoseando em monstro, em papelão, em trapezista, personagem de lendas indígenas e o que mais a imaginação permitir.
O Lá, o Si, o Dó, e o personagem de cada um ganha vida, se pronuncia, e em uníssono, começa o espetáculo.
Aplausos, assobios e euforia contagiam o local e um a um, reage à energia positiva do salão à sua maneira: o casal de namorados se beija, o brilho dos olhos, na criança, demonstra seu encanto com as cores, o som e a magia, enquanto, no velhinho, sua emoção diante de tanta informação e beleza. O grupo com nariz de palhaço, canta, pula, levanta seus cartazes. E o sorriso estampado no rosto de cada um denuncia a satisfação e alegria coletivizada.
Porém, de repente, a imagem se embaça, e gradativamente some. A tela do monitor aparece diante de meus olhos, e abaixo de minhas mãos o teclado.
Encontro-me em meu escritório, de volta á monotonia de uma rotina robótica. Em cima da mesa, o jornal escancara uma nova lei a entrar em vigor, uma tal Lei Azeredo. Curioso, leio a manchete e a introdução, e então, só então, entendo o sumiço da magia de instantes antes. Pronuncio em alto e bom som uma palavra de baixo calão. Indignado, amasso o jornal e descarto-o.
O acesso à cultura, não é crime, seja ela virtual ou não. Meu computador quer virar sarau, deixa ele em paz.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Guerra dos Cem Anos

Fim da rebelião. Naquele momento, completara três dias. O menino estivera esse tempo todo vigiando a água na espera do segundo que seja onde esta serviria de espelho para lhe mostrar em sua sub-alma algo que pudesse realinhar suas órbitas e seus três planetas novamente. E depois de quase três dias, finalmente o vento fora descansar, os peixinhos namorar, e a água, cessara. Não se passara nem um minuto de apreciação da calmaria tão rara quando, de repente, uma criança a correr enforca a paz do menino, nadando em sua esperança. O som da arma ecoou no local avisando que não, ainda não era o fim da guerra, talvez o começo. O menino abaixou a cabeça e se retirou, exausto de esperar a sua paz.

"Há de haver avanço,há de haver soro e sal, há de haver solução a tudo que nos sirva!"
F.A.

domingo, 6 de setembro de 2009

"Só enquanto eu respirar..." F.A.

Poucas coisas são muito significativas nas nossas vidas né? De vez em quando um amigo, um animal de estimação, a família, um objeto de valor, um lar, uma carta. Se pudesse listar as coisas mais significativas pra mim elas totalizariam cinco, dentre todas esses elementos à minha volta. Hoje faz um ano que um deles entrou de forma completa no conjunto. Apesar de todas as implicâncias alheias, não me canso do gosto do som. Em toda nova chance, um novo sabor, e a mesma euforia e alegria sobe pelo sangue, acalma a alma e forma meu jardim zen. Um ano que um sonho quase impossível se realizou. Nem palavra saudade é o bastante para descrever a emoção. Pena que passou, que ficou lá, que foi tão rápido, e que não mais vai se repetir. Estranho como o relógio nem me espera pra andar, foi, e não vejo nem a poeira de seus pés.

'Separa a chuva pra continuar flor!' F.A.

E quando finalmente pára de chover, lá no bairro mais distante uma nuvenzinha cinza dá sinal de vida, indicando que o sol nunca aparecerá por aqui.

Querido J., desculpe-me o chá de sumiço!
Sinto muito a sua falta sabia? Você era minha companhia nessas noites chuvosas de domingo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

On my own - L.M.

O trem apita, sobe mais um com a bagagem.
Aos poucos, apagado pela fumaça, some o rosto de uma criança aos prantos, sozinha, com medo do caminho de volta. E em sua cabeça o eco da pergunta intensifica o choro: Por que o trem insiste em partir?

"A estrela que escolhi não cumpriu com o que eu pedi, e hoje não a encontrei. Pois caiu no mar, e se apagou. Se souber nadar, faça me um favor! O milagre que esperei, nunca me aconteceu..."
F.A.

sábado, 15 de agosto de 2009

'O que se perde enquanto os olhos piscam' F.A. - Desenvolvimento

Um dia vais perceber que tua carteira ficou na primeira esquina dessa rota, os óculos escuros na frente da casa amarela, o par de brincos em cima da mangueira, o colar no mar, o batom no chão, a presilha no mercado, o anel na lixeira, o leite no portão, a chave na fechadura, a tartaruga na rua, o par esquerdo no caminhão, o pote no telhado, a abelha no poste, o berço na ladeira, o almoço na mesa, a mão no bueiro e da borracha nem se tem sinal.

Querido J., só me pergunto a finalidade.

'O que se perde enquanto os olhos piscam' F.A. - Introdução

'Pronde foi a versão original?
São Longuinho, São Longuinho, me fale, me dê um sinal!'
F.A.

Querido J. se souber, faça-me um favor...

sábado, 18 de julho de 2009

"Sonhe sempre menina!" F.A.

Querido J.,

Desculpe-me o sumiço, faltava-me tempo. Agora não mais! Hoje ocorreu-me um fato curioso: vi uma estrela cadente! Não sei se fôra fruto de minha imaginação ou lapso de minha visão, o fato é que vira um rastro de luz a correr no céu. Faziam anos que eu não via uma estrela cadente. Minha última lembrança de uma retoma à uma serena infância, depois, nunca mais. À medida que crescemos, desacreditamos de algumas coisas né? Seres verdes, pequenos e falantes, os tradicionais 'felizes para sempre', coelhos que dão ovos de chocolate, velho gordo e barbudo que presenteia os bonzinhos com a ajuda de renas e pela chaminé, homem que leva as crianças más dentro de um saco, e estrelas que realizam pedidos. O que fez com que parte de mim indagasse se o que vira era real ou não, e contraditoriamente, a outra fechasse os olhos e fizesse um pedido. Pensei em pesquisar com meu amigo G. se existiam ou não, mas logo desisti. Por que continuar com o hábito de acreditar só no que os outros dizem? E se a estrela fôr um sinal? Talvez ainda não seja a hora de me despedir de minhas fantasias de criança. Talvez ela queira que eu acredite nela. Ou pode ser que seja só mais outra fantasia.Até logo,M.

"Acredite-se, só até o fim"
F.A.

Um Zero Nove Cinco

Quebra a xícara. A comida está jogada. Os bichos invadem. Um resquício de luz fraca ilumina o recinto. Pessoas, aos gritos, atropelam-se em busca da saída. O barulho é ensurdecedor e aumenta gradativamente. Morre uma criança pisoteada. O vôo desordenado dos pássaros atrapalha ainda mais a visão. Os vidros quebram. O alimento já vencido exala seu odor pouco agradável. As crianças vomitam. Acaba a luz. O filho se perde do pai. Pessoas escorregam e caem. Ratos e baratas estorvam os menos desesperados. Uma mulher com um chicote ataca os que caem. Melhores amigos se envolvem em tapas, e mãe e filha em berros. A correria aumenta. Intensificam-se os gritos. Ao fundo, a gota caindo compõe sempre a mesma melodia: plim, plim, plim...


E no meio de tudo você sumiu!
Saudades de você J.!

terça-feira, 14 de julho de 2009

'O que se perde enquanto os olhos piscam' F.A. - Conclusão

J.,

O arco íris mudou de cor, a rosa não mais desabrochou.
E assim, desaba meu prédio prefrido e restam apenas os escombros.
Ou é o começo do fim, ou é o fim.

domingo, 12 de julho de 2009

Roda viva

Se sou Pinóquio, querem-me Alice. E se Alice, fazem-me Lobo. Por amor, me transformo em Chapéuzinho. Mas já viro Cinderela, e por falta de espaço: Úrsula. De repente sou A Bela Adormecida , daí, Anastácia e, finalmente, Dumbo. Branca de Neve, Peter Pan, Fera. E eternamente: Rapunzel.

Uma pausa para almoço, por favor?

Qual é o sentido? Por que não dá pra aceitar? Qual é o problema? Por que faz tão mal?
Talvez se você parasse de ouvir somente as suas vozes, você teria ouvido as minhas, que, consecutivamente tentaram te responder.
Você sabe que não é por mal, nem pirraça, manha, birra, show, burrice, loucura, doença ou seja lá como você quiser chamar. Eu ainda não tive um verão pra que eu pudesse fazer o tal sol. Você ainda não deixou. De repente você exigiu que eu sorrisse e achasse tudo lindo enquanto se despediam de mim meus contos de fada. Para alguém que ainda conversava com bonecas, não foi fácil. Eu tive medo, de escuro, de perder, de cair, de monstro e daquele prédio construído à minha frente sem que eu soubesse o que era. E você sumia. Começava a metamorfose: braços viravam palavras às pressas; confiança virava "ali e já volto"; laços viravam fitas de cetim sós; carinho, ofensa; bom senso, irresponsabilidade; e relacionamento virava decepção. E você? Quem virava você? Não sei. Nunca soube. Sei que você tentava convencer, o que fez com que a minha falta de opinião e tempo para formá-la também se metamorfoseassem. Viraram aversão. Às vezes bobas, mas sempre justificadas pelo coração. Se me fosse possível tomar fôlego, não existiriam inúmeros caracóis em mim como agora. Se me fosse possível, rebobinaria, assistiria e te daria as asas que tanto quer. E talvez aquilo ainda existiria. É um processo demorado, você sabe disso, assim como de tudo mais. Mas será que além de ouvidos seu imediatismo e egocentrismo tampam olhos também? Descubramos, não?

Desculpe-me J. Essa carta não pertence a você, mas se antes você ouviria esse desabafo todo, por que não agora?

terça-feira, 7 de julho de 2009

R.I.P.


Caro J.,

Jaz ali um homem julgado, rejeitado, zombado e incompreendido, mas que depois de anos rejeitado e criticado, nesses ultimos dias recebeu todo o amor e carinho que não sabia existir. Pena que foi tarde demais.
Sua ida, me recordou vários momentos ao lado de um grande amigo, anteriores à minha entrada nesse mar de tormentas. Momentos bons onde ouvi, admirei, cantei e dançei, ou tentei, mas principalmente, momentos especiais que compõem as melhores lembranças que tenho desse meu companheiro.
M.J. será sempre lembrado não só como ícone do universo dos acordes, mas como um grande exemplo de quem inocentemente acreditava no bem das pessoas, na cura do mundo, nos sonhos e na criança que existe dentro de cada um. Inocência tal que lhe rendeu vários boatos. É incrível a incredulidade do homem.
Jaz ali um bom pai, um ícone do pop, e uma eterna criança, incompreendida.
Que você finalmente encontre a paz M.
E quem sabe com ela a Neverland?

"We are the world, we are the children, we are the ones who make a brighter day so let's start giving. Theres a choice we're making, we're saving out own lives. Its true we'll make a better day just you and me."
M.J.

“Eu queria ter um lugar onde eu pudesse criar tudo o que eu nunca tive na minha infância.”
M.J.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

SOS

Meu querido J.,

Há muitos metros quadrados por aqui, todavia não vejo cores há tempos. Seria eu daltônica? Ou realmente há algo errado? Afinal, os tempos são outros não? O presidente dos Estados Unidos é negro, o melhor jogador de futebol é uma mulher...
Mas talvez você seja capaz de reverter a minha situação, conforme seu epíteto já indica.
Então por favor, se é mesmo você, siga a fumaça! Há rumores de que provenha de Polidoro de Freitas. Sujeito familiar?

Até breve (agora ainda mais)!
M.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Dedicatória: à Emily Gilmore, antiga Lorelai

Querido J.,

Segundo meu amigo Aurélio Buarque existem 26 categorias,porém meu caso não se encaixou em nenhuma delas. Por que será?
Pesquisando sobre o assunto, descobri que existem espécies de peixes que devoram seus alevinos. Tranquilizei-me, pelo menos não sou uma exceção!
Irônico como ainda no berço tentam nos avisar de seu perigo nas tradicionais canções de ninar, mas ainda assim nos entregamos e confiamos ingenuamente, na certeza de que cumprirão sua função como é de se esperar. Grande erro, grande erro!
Enfim, você sabe do que estou falando, não?



"É certo que o nosso mau jeito foi
[vital
Pra dispensar o nosso bom, o nosso
[som pausou
E por tanta exposição a disposição
[cansou
Secou da fonte da paciência e nossa
[excelência ficou lá fora
Solução é a solidão de nós
Deixa eu me livrar das minhas marcas
Deixa eu me lembrar de criar asas
Deixa que esse verão eu faço só
Deixa que nesse verão eu faço o sol
Só me resta agora acreditar
Que esse encontro que se deu
Não nos traduziu o melhor
A conta da saudade quem é que paga?
Já que estamos brigados de nada
Já que estamos fincados em dor
Lembra o que valeu a pena
Foi nossa cena não ter pressa pra passar
Cabô."

F.A.

Talvez um dia ela entenda...


Você sempre estava do meu lado nessas horas!
Sinto sua falta!


Até breve,
M.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre um navio

Querido J.,

O navio chegou, já partiu e eu ainda não entendi sua rota.
No início, dizia que esse era o começo de uma viagem direta, sem escalas, rumo ao destino que eu tanto queria.
Comprei então a passagem, convicta de que ele cumpriria a rota prometida. Acreditando nas informações do balconista, e no próprio navio.
Pensei que ele me salvaria, eu precisava sair, precisava de sua segurança.
Por causa disso, passei dias admirando-o. Nunca havia reparado-o ali. Agora estava encantada! A sua fachada era tão imponente! Pedi frequentemente ao comandante para que eu pudesse passear pelos seus corredores, e ele sempre deixava. Era lindo! Tudo que eu sempre quis!
No dia marcado para a partida acordei cedo, arrumei minhas malas e esperei a hora certa. Fui a primeira a embarcar. Junto a mim estavam alguns velhos tripulantes do navio e alguns conhecidos meus. Acomodei-me em meus aposentos e esperei a partida.
O apito soou, e os motores começaram a funcionar. Havia chegado a hora! O coração subiu-me à garganta, era de verdade! Eu estava partindo.
Pouco tempo depois, porém, o inesperado aconteceu. Os motores desligaram-se, sem nenhuma explicação.
Fez-se um alvoroço de preocupação dos tripulantes, mas eu não saí de meu quarto. Fiquei ali, sem entender, esperando que o navio me explicasse o que tinha acontecido ou que alguém viesse me informar. Nenhum dos dois o fez.
Pouco a pouco as pessoas foram abandonando o navio , duvidando de sua promessa, de sua partida.
Depois de um tempo, procurei entender o que ocorrera, disseram-me que o navio decidira mudar sua rota.
No começo, senti-me confusa, mas não me importei. Adequei-me ao novo trajeto sem drama afinal, podia acompanhá-lo em qualquer lugar, desde que ele me tirasse dali.
Então esperei pacientemente a sua partida, não me importando para o tempo que isso pudesse demorar.
Até que vieram me avisar que o navio tinha alguns problemas, e que não partiria logo. Fiquei chateada, mas novamente disse que não tinha problema algum, eu esperaria o seu conserto também, afinal, eu não estava com pressa, e não tinha nem destino, só queria que ele tirasse âncora dali, alguma hora.
Saí para passear pelo navio, não havia mais ninguém ali. Todos haviam desistido, só eu acreditava que a viagem ainda pudesse acontecer.
Esperei mais alguns dias. Passeei pela cidade algumas vezes, li vários livros, e dormi bastante, esperando o tempo que o navio precisava, e nada.
Algum tempo depois fui informada de que o navio não partiria mais. Desistira da viagem também, como os outros. A alvoroço inicial da partida desaparecera, e os tais problemas do navio não permitiriam que a viagem acontecesse por completo.
Só então desisti também. Juntei minhas coisas e voltei para casa, triste como quem volta de um enterro, sabendo que voltaria à realidade.
Não havia mais viagem.
Nem navio.
Mais uma vez, era eu e o vento, lutando por atenção no dia a dia, e ele sempre ganhava.
A rotina bateu de novo à porta, com ela a solidão.
Não tinha para onde ir.
Eu estava sem rumo, sem norte, sem cruzeiro do sul.
Deixei que a vida tomasse seu curso natural, parei de planejar, e de sonhar.
Até hoje que depois de alguns meses, voltei no porto.
O navio não estava mais aqui.
Curiosa, perguntei ao balconista, ele me informou que ele havia partido há dias.
Talvez o problema fosse eu.
Talvez o navio não quisesse fazer a viagem comigo, talvez eu tivesse acreditado demais, sonhado demais e exigido demais.
Talvez aquela não fosse a hora certa.E talvez nem o navio.
Continuei andando e deparei-me com outro navio. Completamente diferente do anterior, mas igualmente encantador.
Por impulso, dirigi-me ao balconista e comprei a passagem do tal navio.
O apito soou, ele está partindo. E eu estou embarcando. Quem sabe dessa vez eu complete a viagem?
Enquanto isso, estou de férias!
Não deixe de me escrever!
M.

Prefácio

Querido J.,
Sinto muito a sua falta, mas quem sabe escrevendo pra você eu possa enganar esse vazio? Escrever é uma ótima forma de desabafar. Ainda não estou pronta pra falar sobre você, então essa não será a carta de mil lágrimas. É apenas o prefácio, o começo, a introdução. Talvez em breve você receba A carta, mas ainda não é agora, tenha paciência, estou tentando ser forte.
Te vejo em breve!
M.

PS: Confesso, inspirei-me em uma conhecida para escrever-te. Você me conhece!