quinta-feira, 25 de junho de 2009

Dedicatória: à Emily Gilmore, antiga Lorelai

Querido J.,

Segundo meu amigo Aurélio Buarque existem 26 categorias,porém meu caso não se encaixou em nenhuma delas. Por que será?
Pesquisando sobre o assunto, descobri que existem espécies de peixes que devoram seus alevinos. Tranquilizei-me, pelo menos não sou uma exceção!
Irônico como ainda no berço tentam nos avisar de seu perigo nas tradicionais canções de ninar, mas ainda assim nos entregamos e confiamos ingenuamente, na certeza de que cumprirão sua função como é de se esperar. Grande erro, grande erro!
Enfim, você sabe do que estou falando, não?



"É certo que o nosso mau jeito foi
[vital
Pra dispensar o nosso bom, o nosso
[som pausou
E por tanta exposição a disposição
[cansou
Secou da fonte da paciência e nossa
[excelência ficou lá fora
Solução é a solidão de nós
Deixa eu me livrar das minhas marcas
Deixa eu me lembrar de criar asas
Deixa que esse verão eu faço só
Deixa que nesse verão eu faço o sol
Só me resta agora acreditar
Que esse encontro que se deu
Não nos traduziu o melhor
A conta da saudade quem é que paga?
Já que estamos brigados de nada
Já que estamos fincados em dor
Lembra o que valeu a pena
Foi nossa cena não ter pressa pra passar
Cabô."

F.A.

Talvez um dia ela entenda...


Você sempre estava do meu lado nessas horas!
Sinto sua falta!


Até breve,
M.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre um navio

Querido J.,

O navio chegou, já partiu e eu ainda não entendi sua rota.
No início, dizia que esse era o começo de uma viagem direta, sem escalas, rumo ao destino que eu tanto queria.
Comprei então a passagem, convicta de que ele cumpriria a rota prometida. Acreditando nas informações do balconista, e no próprio navio.
Pensei que ele me salvaria, eu precisava sair, precisava de sua segurança.
Por causa disso, passei dias admirando-o. Nunca havia reparado-o ali. Agora estava encantada! A sua fachada era tão imponente! Pedi frequentemente ao comandante para que eu pudesse passear pelos seus corredores, e ele sempre deixava. Era lindo! Tudo que eu sempre quis!
No dia marcado para a partida acordei cedo, arrumei minhas malas e esperei a hora certa. Fui a primeira a embarcar. Junto a mim estavam alguns velhos tripulantes do navio e alguns conhecidos meus. Acomodei-me em meus aposentos e esperei a partida.
O apito soou, e os motores começaram a funcionar. Havia chegado a hora! O coração subiu-me à garganta, era de verdade! Eu estava partindo.
Pouco tempo depois, porém, o inesperado aconteceu. Os motores desligaram-se, sem nenhuma explicação.
Fez-se um alvoroço de preocupação dos tripulantes, mas eu não saí de meu quarto. Fiquei ali, sem entender, esperando que o navio me explicasse o que tinha acontecido ou que alguém viesse me informar. Nenhum dos dois o fez.
Pouco a pouco as pessoas foram abandonando o navio , duvidando de sua promessa, de sua partida.
Depois de um tempo, procurei entender o que ocorrera, disseram-me que o navio decidira mudar sua rota.
No começo, senti-me confusa, mas não me importei. Adequei-me ao novo trajeto sem drama afinal, podia acompanhá-lo em qualquer lugar, desde que ele me tirasse dali.
Então esperei pacientemente a sua partida, não me importando para o tempo que isso pudesse demorar.
Até que vieram me avisar que o navio tinha alguns problemas, e que não partiria logo. Fiquei chateada, mas novamente disse que não tinha problema algum, eu esperaria o seu conserto também, afinal, eu não estava com pressa, e não tinha nem destino, só queria que ele tirasse âncora dali, alguma hora.
Saí para passear pelo navio, não havia mais ninguém ali. Todos haviam desistido, só eu acreditava que a viagem ainda pudesse acontecer.
Esperei mais alguns dias. Passeei pela cidade algumas vezes, li vários livros, e dormi bastante, esperando o tempo que o navio precisava, e nada.
Algum tempo depois fui informada de que o navio não partiria mais. Desistira da viagem também, como os outros. A alvoroço inicial da partida desaparecera, e os tais problemas do navio não permitiriam que a viagem acontecesse por completo.
Só então desisti também. Juntei minhas coisas e voltei para casa, triste como quem volta de um enterro, sabendo que voltaria à realidade.
Não havia mais viagem.
Nem navio.
Mais uma vez, era eu e o vento, lutando por atenção no dia a dia, e ele sempre ganhava.
A rotina bateu de novo à porta, com ela a solidão.
Não tinha para onde ir.
Eu estava sem rumo, sem norte, sem cruzeiro do sul.
Deixei que a vida tomasse seu curso natural, parei de planejar, e de sonhar.
Até hoje que depois de alguns meses, voltei no porto.
O navio não estava mais aqui.
Curiosa, perguntei ao balconista, ele me informou que ele havia partido há dias.
Talvez o problema fosse eu.
Talvez o navio não quisesse fazer a viagem comigo, talvez eu tivesse acreditado demais, sonhado demais e exigido demais.
Talvez aquela não fosse a hora certa.E talvez nem o navio.
Continuei andando e deparei-me com outro navio. Completamente diferente do anterior, mas igualmente encantador.
Por impulso, dirigi-me ao balconista e comprei a passagem do tal navio.
O apito soou, ele está partindo. E eu estou embarcando. Quem sabe dessa vez eu complete a viagem?
Enquanto isso, estou de férias!
Não deixe de me escrever!
M.

Prefácio

Querido J.,
Sinto muito a sua falta, mas quem sabe escrevendo pra você eu possa enganar esse vazio? Escrever é uma ótima forma de desabafar. Ainda não estou pronta pra falar sobre você, então essa não será a carta de mil lágrimas. É apenas o prefácio, o começo, a introdução. Talvez em breve você receba A carta, mas ainda não é agora, tenha paciência, estou tentando ser forte.
Te vejo em breve!
M.

PS: Confesso, inspirei-me em uma conhecida para escrever-te. Você me conhece!