sábado, 26 de março de 2011

Apre(e)nder

Admiro o dormir, o movimento, a viagem, o ser pôr, pelo, sobre, nos dias.
E o relógio que se recusa a passar e me trazer o som?
A noite, que ontem se abriu para mim, esconde minhas confissões infantis com cheiro de grama e terra molhada, os desejos feitos à cadência das estrelas, as estrelas novas, as entrelinhas, as perguntas e devaneios, o não-esperado, as conversas, Pitágoras e as duas Marias.
Uma árvore e milhões de anos
Insisto, são retas concorrentes com ângulo obtuso, é difícil viu?
A parte pelo todo. O todo na parte. A parte com a quebra.
E será que o ponto de ônibus não deveria se chamar vírgula? Ou será que devo considerá-lo o fim e o começo de uma viagem, e não uma pausa em uma viagem que existe, consiste, persiste, insiste? E as pausas não são sons? Ou é a espera entre um som e o outro?
Desvincular.

sexta-feira, 25 de março de 2011

"Como dizia o poetinha..."

O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai!eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinícius de Moraes

Para não esquecer, vou precisar dele

quinta-feira, 24 de março de 2011

Ponto de exclamação

Dúvidas, questões e perguntas existem para ser respondidas, seja como for, quando for e qual for. Mas é preciso estar preparado, pois as respostas podem te deixar feliz, ou não. In Omnia Paratus! Não é uma decisão, mas é um retorno, um algo que eu julgava não existir, a não ser em mim. Conversar é bom, muito bom.
Agora eu sei, finalmente.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sem mãos, nem palavras

"Mais um adeus,
Uma separação.
Outra vez solidão,
Outra vez sofrimento.
Mais um adeus
Que não pode esperar.
O amor é uma agonia,
Vem de noite, vai de dia.
É uma alegria.
E de repente
Uma vontade de chorar."

domingo, 20 de março de 2011

Deja vu.

15/06/2009
Ctrl C + Ctrl V
O encaixe do mesmo texto, quase dois anos depois.
Navios vão e vem e vão novamente.
"A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar..."

quarta-feira, 9 de março de 2011

Ai (5)


Guerra civil.
Censura à liberdade de expressão.
Nada de sinais.
Escrevi um texto lindo e esclarecedor, mas não posso.
Tem muito de mim, de nós.
É muito vermelho, pulsa demais.
Poderia arriscar, mas não quero o risco.
Pré-ocupação ainda.
Abaixo a (minha) dentadura.
Quero tudo como antes.

sexta-feira, 4 de março de 2011

"They slither while they pass they slip away Across the Universe"

"And I've always lived like this
Keeping a comfortable distance
And up until now I swored to myself
That I'm content with loneliness,
Because none of it was ever worth the risk

But you are the only exception

I've got a tight grip on reality,
But I can't let go of what's front of me here
I know you're leaving in the morning, when you wake up,
Leave me with some kind of proof it's not a dream"

Worried and scared. You promissed me.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Para não esquecer

"(...) farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz."

Clarice Lispector

terça-feira, 1 de março de 2011

Geometria Plana

Cruzamento.
Retas concorrentes.
Concorrentes, em grande ou nenhuma vantagem.
Ângulo obtuso.
Mistura de cores.
Um outro tom.
Imagens não-quistas.
Cadê a borracha?
É...
Que sejam paralelas então!
Ausência de ângulo.
Espaço.
Tempo.
Preto.
Nesse caso, a distância é boa.