terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Querido Papai Noel...

Esconde-esconde. Careta. Abraço. Conversa. Desabafo. O diálogo mudo. Paz. Sorriso. Cabelo atrás da orelha. Mensagem. Estrelas. Gato com sininho. Mão. Filme. Cozinha. Carinho. Borracha. Carta. Arrepio. Segurança. Perfume. Falta de ar. Rabiscos. Timidez. Calmaria. Vergonha. Calor. Ontem.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Palpite

- Promete que nunca vai embora?
- Plometo! Eu plometo!

J. cade vc?
Vem passar o natal comigo!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A Lente da Amora

Seria loucura dizer que aquela antiga amoreira ainda brota? Os frutos não aparecem mais, mas as folhas sempre brotaram, desde aquela época. Uma aqui e outra acolá para de dizer tempos em tempos que morta ela não estava.
Estava caminhando por ali e parei para dar-lhe atenção. Sentei na grama e observei-a, lembrei de cada subida, conversa e esconderijo que me proporcionara, senti saudade. Começei a conversar em voz alta com a árvore em busca daquela antiga relação, contei do meu dia, meus anseios, do noticiário, das minhas piadas sempre sem graça, e tudo o que se passava. Passei o dia ali, mas ela não me respondeu.
Volto lá todos os dias, na esperança de que um dia ela volte a brotar as amoras, que um dia estupidamente desprezei. Talvez a amoreira tenha ficado muito chateada com o meu chá de sumiço que a (i)maturidade causou, mas ainda alimento o tambor dentro de mim que diz que um dia seremos novamente nós. E por falar em tambor, depois de ter tomado o mesmo chá de sumiço, ele voltou, e forte.

Lágrimas e chuva

Querido J.
Que saudade! Minhas noite frias e chuvosas ficam duas vezes mais frias e chuvosas sem você, só que agora elas ainda são solitárias.
Já colori, li, cantei, assisti, chorei, dormi, mas o que tem faltado é você aqui no meu colo e no meu pé certificando-me que você está ali e isso é impossível repor!
Mesmo que não volte, promete que fica bem? É difícil dizer adeus, mas estou começando a aceitar. Você sabe que eu sempre vou te amar!
Mande notícias, nem que seja pelos passarinhos que cantam de manhã!
Com carinho e saudade,
M.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Alice no País das Armadilhas

- 3, 2, 1! Lá vou eu!
O sinal. Era a última chance de me esconder. Entrei atrás de uma árvore, e, de repente, em um corredor confuso, com medo de que me achassem, lá esperei.
Durante um longo período, nem sinal de minha irmã, orgulhei-me do esconderijo e continuei esperando. Mas a noite chegara de mansinho, e comecei a me assustar, estava em um lugar desconhecido sozinha.
Foi quando ouvi uma música barulhenta e algumas vozes, corri atrás delas, buscando a saída. Cheguei em uma festa, as pessoas dançavam, cantavam, brindavam e se divertiam, mas era uma festa estranha, não parecia com as que eu frequentava: estavam todos de preto, alcoolizados, e de onde estava, todos pareciam imorais, nunca tinha me deparado com uma cena como essa antes, meu medo aumentou, mas aproximei-me para conseguir informações.
A aproximação trouxe consigo uma "surpresa" amedrontadora, gritei, mas não me ouviram. O rosto de todas elas eram disformes, de longe, isso não se notava. No lugar da feição de cada uma estava um borrão, como aqueles que borrachas ruins costumam deixar. Apossou-se de mim o medo: minha garganta fechara, minhas pernas bambearam, nunca tinha me deparado com tamanho horror. Mas como a vontade de sair dali era maior, recuperei minha coragem e fui ao encontro de uma mulher que estava ali perto:
- Oi?! Poderia me dar uma informação?
- Anda logo menina, está vendo aquela tenda ali? Tenho um compromisso lá dentro de dois minutos e ainda quero tomar mais uma.
- Ah sim, desculpe-me! Mas é que estava indagando: Onde estamos?
- De que importa? Tem cerveja e homem de sobra, o que mais quer!?
- É... obrigada - respondi envergonhada
Avistei um homem pensativo sentado em uma pedra a alguns metros de mim. Aproximei-me e perguntei:
- Olá! Você sabe onde estamos?
- Para alguns, menina, o paraíso! Iludem-se de uma falsa liberdade e impermeabilidade enquanto, na verdade, estão apenas presas em um labirinto. Para mim, porém, esse lugar não passa de um inferno, já estive com eles também, mas percebi que não me encaixava ali. Infelizmente, não consigo abandonar esse lugar, então fico aqui na divisa entre os mundos, ora estou ali, ora aqui...
Aquela história de dois mundos me confundiu, mas algo do discurso me era interessante:
- Então estamos em um labirinto?
- Sim e não. Esse lugar é o que você quiser que seja, mas sua saída é inatingível, isso eu lhe garanto! Agora retire-se, pare de me importunar!
- Oh sim, desculpe-me senhor! Obrigada!
A conversa não me ajudara muito, mas ao menos agora eu sabia que deveria tomar cuidado. Resolvi esperar a noite passar e com ela a euforia alcóolica para descobrir como sair dali. Acomodei-me embaixo de uma árvore e ali, sobre a relva, adormeci.
Acordei no dia seguinte com um grito de comemoração e o barulho de copos se chocando e quebrando. As imagens do dia anterior vieram-me á mente - suspiro - "não, não era apenas um sonho". A festa não tinha acabado, e parecia que nem acabaria. Estavam todos ali da mesma forma, suas vidas eram aquilo.
Pensei em minha família, deveriam estar preocupados, estava desaparecida desde o dia anterior. Fiquei com saudades. Precisava enfrentá-los.
Logo quando cheguei na rodinha enfiaram uma caneca na minha mão e me abraçaram, cantando o rock que estava tocando. Perguntei onde estávamos, não me responderam.
Na mesa ao meu lado estava uma roda de pessoas e de dentro dela saía uma fumaça. Uma mulher me puxou para dento da roda. Em cima da mesa estava um objeto estranho, que estavam todos usufruindo. A mesma mulher ofereceu para me juntar-me á eles, como estava desesperada e precisava de alguém que me mostrasse a saída, aceitei. Odiei, mas estavam incluída na roda.
Gradativamente adotei a vida daquelas pessoas, esperando que com colegas, não estaria sozinha e me responderiam. Bebi, dancei, cantei, fumei, me droguei, e perdi o que para mim era digno, com pessoas que nunca vi, nem antes, nem depois.
A vontade de voltar para casa ainda vinha me incomodar, mas era sempre soterrada no baú debaixo do assoalho onde estavam meus valores, angústias e aquilo que chamam de saudade. Algumas vezes, pensei em perguntar sobre a saída, mas minha (in)consciência logo puxava o meu desejo e escondia no baú. E assim vivi por um longo tempo, sob a vontade dela, deles.
Um certo dia, estava à procura de folhas e encontrei no chão, um pedaço quebrado de um espelho. Não via um há muito tempo, então, não contive a vaidade, olhei e gritei. Tamanho fôra o susto que durante alguns segundos escutei seu eco. O que eu via no espelho não era eu. Olhei ao meu redor pra certificar que estava sozinha ali e eu estava, aquele era meu reflexo. Subitamente, meus olhos se encheram de lágrimas e derramei-me aos prantos.
A imagem do espelho era exatamente aquela que me assustara tanto em minha chegada ali: um borrão. A única coisa que me distinguia daquele povo eu tinha perdido: a minha própria identidade, minhas feições. O choro foi se transformando em berros de socorro.
A razão veio me visitar depois de tanto tempo brincando de esconde-esconde. Percebi o quanto estava perdida, ali nem sequer me conheciam, era apenas mais um borrão, e um borrão não era eu. Uma corrente de desespero me atingiu e comecei a correr.
Corri, e quanto mais eu corria mais eu encontrava corredores sem saída. Passei o dia correr, no mesmo ritmo frenético. O lugar que passei meses indagando o que seria, era um labirinto e como disse o cara da pedra: uma vez que você entra, sair é um desafio. E era. Quando já estava anoitecendo, encontrei a saída. Estava livre!
Continuei correndo em direção à minha casa. O reencontro fez com que todos ficassemos abraçados, entra lágrimas e pedidos de desculpa. E entre tanto alívio generalizado sorri, ali que estava a minha felicidade.
Quis tomar um banho. Ao entrar no banheiro o espelho me encarou. Tive medo, mas fechei os olhos e me coloquei diante dele. Abri e mais uma vez gritei, mas de felicidade, meu eu estava ali de novo. Indaguei se tudo aquilo não passava de um sonho, mas forte a dor de cabeça que aparecia comprovava que não.
E depois ainda dizem que "Labirinto do Minotauro" é só uma lenda.