quarta-feira, 21 de outubro de 2009

MegaNão

Clique: A tela à minha frente se esconde, e subitamente surge um palco, um público, e uma cortina que do teto ao chão, esconde a surpresa que está por vir.
Olho ao meu redor. À minha frente, o grupo uniformizado com narizes avermelhados canta animadamente. Um pouco mais à frente deles, uma criança conta entusiasmada à mãe seus devaneios acerca do segredo por trás da cortina, enquanto ao meu lado, uma criança nascida há mais tempo bate a bengala ao chão em ato de ansiosidade pelo o que está por vir. Em um canto mais reservado, o casal de namorados espera o momento ideal para em um único gesto declararem-se.
As luzes se apagam, um vocativo ecoa no salão e a cortina misteriosa se abre.
Do fundo do palco, vem um palhaço pintado em vermelho, branco e preto. Na mão, o violão companheiro de madrugadas ao sabor de sopa instantânea, casando palavras e parindo rimas e versos. Com ele, vêm outros palhaços, cada qual vestido de seu personagem.Ao céu, contorce-se graciosamente em um tecido pendurado ao alto, a boneca roxa e vermelha, enquanto outra, esverdeada, encanta com suas atuações e estripulias na lira.Em solo firme, interagem os palhaços e seus instrumentos, e um deles dançando hip hop diverte com suas encenações e graças. Completando a trupe, está outro, se metamorfoseando em monstro, em papelão, em trapezista, personagem de lendas indígenas e o que mais a imaginação permitir.
O Lá, o Si, o Dó, e o personagem de cada um ganha vida, se pronuncia, e em uníssono, começa o espetáculo.
Aplausos, assobios e euforia contagiam o local e um a um, reage à energia positiva do salão à sua maneira: o casal de namorados se beija, o brilho dos olhos, na criança, demonstra seu encanto com as cores, o som e a magia, enquanto, no velhinho, sua emoção diante de tanta informação e beleza. O grupo com nariz de palhaço, canta, pula, levanta seus cartazes. E o sorriso estampado no rosto de cada um denuncia a satisfação e alegria coletivizada.
Porém, de repente, a imagem se embaça, e gradativamente some. A tela do monitor aparece diante de meus olhos, e abaixo de minhas mãos o teclado.
Encontro-me em meu escritório, de volta á monotonia de uma rotina robótica. Em cima da mesa, o jornal escancara uma nova lei a entrar em vigor, uma tal Lei Azeredo. Curioso, leio a manchete e a introdução, e então, só então, entendo o sumiço da magia de instantes antes. Pronuncio em alto e bom som uma palavra de baixo calão. Indignado, amasso o jornal e descarto-o.
O acesso à cultura, não é crime, seja ela virtual ou não. Meu computador quer virar sarau, deixa ele em paz.