quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Um dia anormal

Bastaram os cinco primeiros degraus para que eu sentisse a diferença. Faltava algo aqui, faltava alguém. Meus olhos umedeceram e lentamente foram caindo lágrimas na blusa rosa choque. Já era tarde e a casa estava vazia. Faltava alguém pra cuidar de mim. Não tinha ninguém na porta à direita para contar que eu tinha tomado Y., mas eu entrei mesmo assim. Entrei pra ter certeza de que era real, pra ver o saquinho do cadeado no chão, a O. em cima das revistas, o guarda-roupa vazio. Deitei na cama, peguei o J., e lamentei a falta. Lembrei das últimas palavras: "uma surpresa".Corri para o meu quarto e revirei a bagunça já revirada em busca de um pedacinho dela, e atrás da porta, encontrei a contagem regressiva: 68 dias para o seu retorno. Comecei a ler o calendário, enquanto berrava aos prantos que ela não fosse. Eu queria que ela estivesse aqui em cada dia daquele calendário, em cada evento em destaque. Eu preciso dela aqui. Abracei a porta, como se ela pudesse me consolar um pouco. Voltei para o quarto ao lado e chorei.
Na hora de dormir, aposentei a ameba. A partir daquele dia até o fim dos outros 68, eu dormiria com o travesseiro dela e o J., e foi o que fiz. Faltou alguém ali na cama também.
Acordei no dia 67 como um dia normal.Fiz o primeiro x vermelho. Fui escovar o dente e faltava uma escova de dente. Fui ao seu quarto para checar de novo o que eu já tinha certeza. Aprontei, coloquei o chinelo que ela me deu, tentei achar um moletom dela, desci e fui fazer a vitamina de abacate. Lembrei que na semana passada eu fiz uma pra nós, ficou aguada. Coloquei a vitamina no copo do Shrek, ela riu de mim quando eu ganhei o copo.
Entrei no carro, e fui pra escola. No caminho, vi um U. amarelo. Lembrei das diversas vezes que eu via o carro e lhe chamava a atenção.
Cheguei na escola: dor de cabeça. Ela veio, como visitante assídua das minhas manhãs escolares, e permaneceu até o fim desta.
Segundo horário: História. O professor colocou um mapa do Leste Europeu, e começou a falar dos países ex-integrantes da URSS, entre eles, a B. Depois, ele falou da I., citou D. e até colocou uma foto de um pub que acredito eu foi o que ela visitou quando esteve na cidade.
Intervalo: foi difícil conversar com a amiga sobre a partida. Os olhos ficaram molhados de novo, mas segurei.
Pensei nela, mandei mensagem. Esperei a resposta, que só depois vi que chegou por email.
A manhã terminou, hora do tal almoço da quarta-feira. Esperei na esquina, a pessoa que iria me buscar. Não era ela esperando pra me dar um tchauzinho dentro do M. preto.
Cheguei no almoço, tínhamos visitas. Já imaginei o olhar que seria trocado caso ela estivesse ali. Tinha peixe, e frango. Peguei o frango, pensando que ela faria o mesmo, e comi com a mão, faltou alguém para partir pra mim.
Ao final do almoço, sentei no sofá e enquanto esperava alguém para me buscar, dormi. Dormi uma hora e dez minutos, até que chegasse alguém. Faltou nessa hora também.
Cheguei em casa, o banheiro estava uma bagunça. Ela pediria que eu arrumasse, então eu arrumei.
Não tive vontade de fazer nada, deitei na cama e acabei dormindo a tarde inteira. Talvez tenha sido menos difícil.
Fui para a C. O primeiro assunto: a partida, mas dessa vez não me segurei, chorei e muito.
Cheguei em casa, subi os mesmos cinco primeiros degraus, e desci correndo chorando. Abracei minha mãe.
Fui na locadora devolver o filme, e depois pro S. comer um sanduíche. Chorei pensando que era ela que me levava pra comer comidas diferentes em lugares diferentes.
Tentei ligar várias vezes, não atendeu.
Ainda falta a melhor amiga pra eu contar sobre esse dia completamente anormal.

Acho que essa falta vai diminuindo né J.? Estou feliz que ela está indo, só não gosto de ter que ficar longe.
Meus olhos ardem de tanto chorar.
Vou fazer o segundo x agora.

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